terça-feira, 12 de janeiro de 2016

042 - O Homem das Estrelas Viajou Além da Velocidade da Luz...

Olá, pessoa querida que me acompanha nesta doideira que é a Filmoteca! Que bom lhe ver por aqui!
Bem, devo pedir desculpas a tod@s vocês pela falta de postagens destas últimas semanas - tanto aqui, na Discoteca (vocês devem ter notado que minha última postagem no ar foi sobre o álbum natalino do CORETFAL, e nem tinha uma introdução, por assim dizer, completa), quanto na Filmoteca e na Biblioteca.
A razão é simples: como vocês já sabem, eu costumo escrever as postagens com algum espaço prévio (exceto aqueles textos vindos de rompantes) e já programo sua ordem para ir ao ar. Mas então, dia dezenove de dezembro, o Blogspot resolveu pregar uma peça com todos nós e deixar a página de atualização das postagens instável. Nenhuma postagem abria. Eventualmente, nem mesmo a página que mostra as postagens resolveu colaborar com yours truly. E as postagens que estavam já programadas foram ao ar do jeito que estavam, completas ou não. E fiquei sem acesso aos bastidores de qualquer dos meus blogs. Cruel, isto, não?
E então, chegou a surpresa número dois: hoje, dia doze de janeiro, nosso querido Blogspot resolveu voltar a funcionar.
Pensei sobre o que fazer, e decidi dar seguimento à agenda como estava prevista - portanto, por favor, não estranhem se encontrarem postagens ainda de 2015 por aqui. Eventualmente, eu alcançarei o prazo corrente e os blogs seguirão normalmente. Por ora, vou informando tod@s vocês sobre as postagens nos Trigêmeos conforme elas forem sendo finalizadas e indo ao ar.
Grato pela compreensão de sempre, gente!
Fonte da imagem: http://www.billboard.com/
E então, partamos à obra de hoje, que é disso que o povo gosta, não é?
Na manhã de ontem, dia 11 de janeiro de 2016, cheguei ao trabalho e fui surpreendido por um de meus colegas lendo a manchete da morte de David Bowie. Aos 69 anos recém-completados e com um álbum recém-lançado e em plena fase de promoção. Não é preciso dizer que o espanto foi geral. Houve boatos antes, mas foi na década passada, e eles se dissiparam após o grande retorno e os constantes shows mundo afora.
Ele era conhecido como "o camaleão do rock", mas eu nunca consegui vê-lo assim. OK, ele nunca era o mesmo a cada novo álbum, a cada novo espetáculo. Cada trabalho (ou a cada par ou trio de álbuns), ele investia em novos ritmos e desafiava as convenções do rock, do pop, das estações de rádio. As personas em que ele mergulhava também não eram fáceis de serem digeridas - e talvez por isso, mesmo, ele falava tão diretamente com sua geração e com @s mais jovens, ávid@s por se diferenciarem (mesmo entre seus pares) e por conhecerem novos conceitos, discutirem e expandir suas mentes. Gênio!
Então, hoje, a Discoteca traz o lançamento mais recente do Homem das Estrelas como forma de homenageá-lo, tal qual a Filmoteca fez com a grande Marília Pêra. Não havia outra coisa a se fazer, aqui.
Fica aqui meu registro de saudação a David Bowie.

Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/

Álbum: Blackstar
Artista: David Bowie
Gravadora: ISO/Columbia
Data de lançamento: 08/01/2016
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
David Robert Jones foi um camaleão musical, que mudou e ditou tendências influenciadoras da cultura pop e do mundo fashion, sempre alterando seu estilo musical, visual e performático para acompanhar cada novo passo. Em outras palavras, David Bowie foi o protótipo de Madonna (deixo que cada um faça sua conjuntura particular sobre sucessos e comparações).
Ao longo de cinco décadas, Bowie brincou com as regras das canções que tocam nas rádios e desafiou as convenções do rock’n’roll, brincando com jazz, com música erudita, gospel, pop, variadas vertentes da música eletrônica, disco, funk, soul, R&B e até com o rap – sempre escudado por personas representativas de determinados trabalhos, como o Major Tom, o mensageiro espacial Ziggy Stardust, o gato Halloween Jack e o fascista Thin White Duke.
Uma carreira bem prolífica até uma abrupta parada no início dos anos 2000, que trouxe muitos rumores sobre seu estado de saúde. Após o hiato de quase dez anos, ele voltou à ativa, se aventurando pelo art rock com afinco, enquanto batalhou em segredo contra problemas de saúde como o câncer de fígado que viria a tirar sua vida numa época tão curiosa (meros dois dias após o seu 69º aniversário).
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
Quando escutei todas as canções de Blackstar no canal de Bowie no YouTube, senti um tom extremamente fúnebre nas canções – “escolha estranha de álbum para se lançar logo no seu dia de aniversário”, pensei. Os eventos dos últimos dias anunciaram: este álbum foi preparado com o claro intento de ser uma carta de despedida para ser lida após a passagem de seu escritor. Como o fiel escudeiro, o produtor Tony Visconti, disse: Blackstar é seu “presente de despedida”. Ele inicia a terceira faixa, sugestivamente titulada “Lazarus” (o homem ressuscitado por Jesus), dizendo “olhe para cima, eu estou no céu” e finaliza com “como aquele pássaro azul, eu estarei livre”.
Em vários momentos, Blackstar parece reverenciar os álbuns anteriores (especialmente os da década de 1970 e “Black Tie White Noise”), mas não sem ter sua própria identidade, como toda boa obra de David Bowie: os experimentos com o art rock derivados do álbum de estúdio anterior, “The Next Day”, continuam aqui, com toques de avant-garde jazz e batidas de música eletrônica.
Fonte da imagem: http://musica.uol.com.br/
“Sue (Or in a Season of Crime)” foi regravada para esse álbum (foi uma faixa inédita na compilação “Nothing Has Changed”, de 2014 – o lado b do single, “'Tis a Pity She Was a Whore”, também foi regravada e aqui figura). Quando vi o título, imaginei a razão de esta canção estar ali, mas os novos detalhes do arranjo a tornaram bem melhor, aqui, e a letra, entregando sua doença e seu tratamento (“ligaram da clínica, tudo bem com os raios-X”), não poderia ficar de fora do atestado do que se passava na cabeça de Bowie nos meses de gravação de Blackstar.
Todo o conteúdo lírico da obra é lúgrube (para dizer o mínimo) e começa reconhecendo o legado deixado para trás (na faixa-título, ele diz “leve seu passaporte e seus sapatos, eu não sou um popstar. Leve seus sedativos, eu sou uma estrela negra”) e fazendo uma despedida tranquila na derradeixa faixa, “I Can't Give Everything Away” (“sei que algo está muito errado”).
Fonte da imagem: http://www.theguardian.com/
Como não haveria tempo para uma turnê ou apresentações formais que pudessem mostrar uma nova persona, Blackstar trouxe logo três no clipe de sua faixa-título: o introvertido e atormentado Button Eyes (que reapareceria no clipe de “Lazarus”), um “malandro extravagante” e o Sacerdote, figura misteriosa e sinistra sempre a carregar um livro gravado com uma estrela negra.
Um “Let's Dance” Blackstar não é (sim, meu álbum favorito de DB é “Let's Dance”, me julguem!) – até pela enorme intensidade que carrega e o põe o mais longe do pop que Bowie já foi na vida, mas esta pérola indicaria um esplêndido retorno à forma, se não fosse maravilhoso testemunho do legado que o Starman deixou. É uma anomalia em sua discografia – David não era compositor autobiográfico, e suas canções em primeira pessoa se escondiam atrás das personas apresentadas – o que não ocorre aqui. Talvez por isso, mesmo, Blackstar alcança um nível de brilhantismo que não era conhecido – é exatamente o que David Bowie fez e buscou em toda a vida: pura arte.

VEJAM TAMBÉM!
Biblioteca

"Manual do Arquiteto Descalço"
(técnico)
Johan Van Lengen
Filmoteca

"Elvira, a Rainha das Trevas"
(longa-metragem)
James Signorelli

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